![]() |
| "Wild" de Nine Muses Star Empire Entertainment |
É natural que artistas da música possuam seu som característico, geralmente denominado de "marca". Quando se trata de artistas Pop, a marca sonora fica sob encargo do produtor com quem se trabalha, enquanto ao artista cabe dar vida imagética ao som produzido.
A vastidão do oceano de grupos K-Pop faz com que a imagem seja essencial para o firmamento de determinado grupo, mas a música - delegada aos produtores selecionados - tem papel crucial para a construção dessa imagem/identidade. Por mais que os detratores insistam que a música está em segundo, às vezes terceiro, plano no K-Pop - e, não raro, o fandom confirme essa ideia - é ela a porta de entrada de admiradores e novos fãs.
No hall de produtores do K-Pop, Sweetune é um dos nomes mais fortes, sendo o criador da assinatura sonora de diversos grupos como KARA e Rainbow (DSP Media), INFINITE (Woolim Entertainment), Boyfriend (Starship Entertainment) e, finalmente, Nine Muses (Star Empire Entertainment).
Figaro, primeira parceria entre o grupo de supermodelos e a dupla de produtores foi essencial para transformar o primeiro de piada da indústria do entretenimento a um dos grupos mais promissores em termos de popularidade.
A rendição Disco do single apresentava os elementos essenciais de uma produção sweetunística: batidas modernas associadas arranjos de metais, linhas de baixo e sintetizadores em apologia aos sons dos anos 1980.
"Figaro"
Presente em quase todos os trabalhos do duo, esses elementos foram assumindo características mais maduras de acordo com a evolução performática de Nine Muses, contendo rap breaks interessantes que não soavam totalmente desnecessários e discrepantes à composição (News e Ticket).
À altura do lançamento de Sweet Rendezvous (2012, primeiro EP do grupo), Sweetune e Star Empire chegaram à conclusão de que Nine Muses é um grupo de mulheres adultas. Essa emancipação etária se refletiu em fantásticas composições como a sensualíssima Who R U, faixa de abertura do EP, ou nos poderosos versos de rap de Lee Sem em "Ticket". Em Dolls, Nine Muses e Sweetune falaram dos perigos do amor, mas sem a exasperação adolescente e dramática usual nos grupos femininos viciados em aegyo.
"Ticket" (Comeback Showcase, 2013)
Wild
Enquanto em "Dolls" Sweetune imprimiu uma sonoridade jazzística nada comum no atual cenário do K-Pop, dando um sopro de vivacidade madura em comparação às suas recentes produções, em "Wild", Sweetune revisita sonoridades já experimentadas para outros grupos, como em Pandora, single do ano passado de um dos grupos mais populares da Coréia, KARA.
"Pandora" de KARA
Deixando os metais de Jazz para trás, "Wild" tem uma sonoridade mais próxima do Euro-Dance, com batidas mais orientadas à pista, apesar de conter os característicos acordes de piano Pop de Sweetune. O que faz de "Wild" superior a "Pandora"? Nine Muses.
O principal problema de KARA é que as adoráveis moças são apenas isso: garotas. Para uma canção de sex appeal latente como "Pandora", a performance Lolitesca de KARA não convence muito. Como previ, "Wild" certifica a posição de Nine Muses como idols adultas.
Melhor MV do grupo, "Wild" referencia fetiches e explora a sensualidade confiante do grupo que, ao contrário da maioria de suas colegas de indústria, parece ter experiências reais em orgasmos, transmitindo sexualidade com maturidade.
A fotografia B&W com pós-produção em vermelho transforam Nine Muses em divas trouble makers. Além disso, Euaerin e Eunji proveem alguns dos raps mais poderosos e excitantes do K-Pop, desestabilizando a ideia de que idols não possam fazer rap*.
"Wild"
O segundo e homônimo EP possui jóias interessantes que soam como os trabalhos de Xenomania - renomado grupo de produtores britânicos que já trabalharam com divas como Cher e Kylie Minogue.
Action, um excelente tour de force de música Dance poderia tranquilamente constar na discografia de Girls Aloud ou Britney Spears, e as baladas midtempo Paper Scraps e Living Person dão vazão às subestimadas vocalistas do grupo.
Aliás, "Living Person" merece destaque por seus sintetizadores que deslizam em direção à House music de fins dos anos 80 e início dos 90. A instrumentação aqui é grandiosa, com arranjos de guitarras e violão bem próximos ao Pop noventista que flertava com a música Soul, mas de ritmo suave que não ofusca os vocais. Aqui, novamente, os raps de Euaerin e Eunji são de primeira qualidade.
Devido à tendencia Euro Dance, "Wild" pode ser um tanto decepcionante para MINEs** (eu) que se derreteram e esperavam uma continuidade na estética sonora de "Dolls". Mas, apesar da reciclagem sonora usual de Sweetune, Nine Muses supera expectativas enquanto artistas performáticas, um grupo que melhora a cada trabalho, merecendo maior atenção e popularidade.
*Nota: estou falando de rap breaks em meio a canções e não de Hip Hop.
**Como são designados os fãs do grupo
